sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA AMAE EDUCANDO COM DIREITOS AUTORAIS

Escola Municipal Angelina Medrado
Professora Luciana das Mercês Santos
Endereço: Rua Antero Ferreira da Fonseca, 37. Lagoa Dourada, Minas Gerais
Professora da fase IV
Alunos atendidos: 41 alunos
Duração: 20 dias

Título do trabalho: Acertando as gotas

Lagoa Dourada, junho de 2007.

JUSTIFICATIVA
            Toda a população de Lagoa Dourada estava alarmada com a vinda da Copasa para a cidade, devido ao fato de terem de economizar água por causa da elevação do preço pago pelos consumidores. Constatei isto ouvindo os alunos na “Hora do Causo” (espaço aberto toda segunda-feira para contarem fatos do cotidiano), que expuseram a preocupação de seus familiares em pagar a tarifa maior. Em nenhum momento eles falaram do porquê da importância da economia da água sem ser o motivo financeiro.
            Na “Hora da Leitura de Revista” (momento de leitura de revistas da biblioteca toda quarta-feira) verifiquei grande interesse em reportagens que tratassem sobre a água.
            Há todo instante nos vemos aturdidos pelas mensagens de alerta da mídia com relação à água: A água potável está acabando. A água se tornou muito valiosa. Se não economizarmos, dentro de poucos anos, não teremos água potável. As calotas polares estão derretendo.A poluição da água está aumentando. Aquecimento global põe em risco a vida humana. Etc.
            Dentre tantos alertas, não podemos ficar inertes ao problema. É nosso dever como educadores, buscar junto aos alunos e comunidade a verdade e as informações necessárias para mudar nosso comportamento e evitar este destino trágico.
            Muitas vezes, subestimamos o poder da escola na transformação do ser humano enquanto cidadãos aptos a lutar por mudanças de comportamento comprometidas com o futuro da humanidade e deixamos de trabalhar determinados temas que poderiam melhorar a qualidade de vida no planeta.
            Vendo tantos desperdícios de água, tanto na escola quanto na comunidade, tantas manchetes que aturdiam a cabeça dos alunos e a vinda da Copasa para nossa cidade, não deixei de aproveitar o espaço escolar para desenvolver tal projeto.

                                   OBJETIVOS

. Valorizar a água potável.
. Reconhecer o ciclo da água.
. Conhecer a quantidade de água e a sua distribuição no planeta.
. Conhecer a Copasa como Estação de Tratamento da Água.
. Identificar e pôr em prática meios para economizar água.
. Conscientizar a população da importância da economia de água e das consequências da poluição desta.
. Conhecer o divisor de águas da cidade.
. Localizar no mapa as bacias do São Francisco e do Rio Grande.
. Ver, identificar e conhecer o destino dos poluentes do ribeiro que leva o esgoto da cidade.
. Conhecer a Estação de Tratamento de Esgoto de uma fábrica de laticínios.
. Compreender as causas e conseqüências do degelo.
. Conhecer o homem como agente transformador.
. Reconhecer as utilidades da água.
. Conhecer a história da vinda da energia elétrica para a cidade.
. Ler diversos gêneros de textos sobre o tema.
. Entrevistar moradores dos bairros.                                             Luciana das Mercês Santos

. Interpretar mapas.
. Organizar relatórios.
. Construir maquetes.

                                   CONTEÚDOS
. Ciclo da água,
. Utilidades da água,
. Estação de Tratamento de Água,
. Estação de Tratamento de Esgoto,
. Poluição das águas,
. Lençol freático.
. Nascentes,
. Divisor de águas.
. Hidrografia do município, estado e país,
. Mapas,
. Energia elétrica,
. Leitura e interpretação de diversos gêneros textuais,
. Produção de texto,
. Arte,
. Fração e porcentagem,
. Poluição das águas,
. Sistema monetário.

                                   METODOLOGIA

            Primeiramente procurei o escritório recém-aberto da Copasa e falei com um funcionário sobre o interesse de meus alunos em conhecer mais sobre o assunto Água e a minha preocupação em conscientizá-los, juntamente com suas famílias, da importância da economia desse bem, independente da tarifa paga por eles. Ele demonstrou interesse em me ajudar, fornecendo material impresso e se colocando à disposição para esclarecimento de dúvidas e palestras.
            A partir dos folhetos informativos e do conhecimento prévio de cada um, fui questionando os alunos a fim de perceber o que queriam saber. Fizemos um índice e começamos a estudar.
            Na “Hora do Conto”, feita todas as sextas-feiras, li “A mina d’água” de Rubem Alves tirado de seu livro Quando eu era  menino. Este texto nos deu margem para discutirmos sobre a importância das nascentes e das plantas nativas que as protegem, bem como o plantio de árvores que podem prejudica-las.
Crianças que moram na zona rural contribuíram com seus depoimentos.
 Ilustramos a música Planeta Água e coletivamente escrevemos sobre o ciclo da água já que os alunos conheciam o processo.
            Observando o mapa-mundi os alunos notaram que a maior parte do nosso planeta é composto de água salgada; que a água potável vem dos continentes por meio dos rios, lagos, lençóis freáticos. Representamos, usando frações e porcentagens, a quantidade de água e terra do mundo, a quantidade de água salgada e doce. Usando copos americanos, enchi dez, retirei metade de um deles que correspondia à água potável e o restante, à água salgada. Novamente, usando os mesmos copos, representei da mesma forma e quantidade a água potável e a contida nas geleiras.
            Numa reprodução em folha do mapa do mundo, os alunos localizaram os continente e oceanos, dando maior ênfase à América. No mapa do Brasil, conheceram as principais bacias e, em grupo, pesquisaram-nas, expondo o conteúdo num seminário.
            Interpretaram alguns textos como: “Haverá água quando a gente ficar velho?’ De
                                                                                         Luciana das Mercês santos
Fernando Bonassi e “E se a água acabar?” da Revista Zá, maio de 1998, que tratam da importância da água e poluição dos rios que acaba atingindo o mar. Depois de interpretados e comentados, perguntei aos alunos se sabiam onde é jogado o esgoto da cidade. Alguns deles, residentes no bairro Gamarra, citaram um ribeiro lá existente.
            No dia seguinte, fomos em tal bairro e encontramos o ribeiro. Com a permissão de alguns moradores, vimos que a uma distância de mais ou menos 10m das casas, o esgoto corre a céu aberto. Conversando com alguns moradores, constatamos o desconforto que isto provoca como mau cheiro, impossibilidade do cultivo de hortaliças... Outros manifestaram irritabilidade com o governo municipal que não toma nenhuma providência, por isso os aconselhamos a se mobilizarem organizando um manifesto de protesto.
            Andando um pouco mais, chegamos a uma parte onde o esgoto se encontra canalizado e, nessa área, a população está satisfeita e acha que para eles não há nenhum problema. Os alunos se espalharam e conscientizaram os moradores que o problema não é só de quem mora perto do esgoto a céu aberto e sim de todos nós. Explicaram que aquela poluição segue até o rio mais próximo, rio Carandaí, atinge a bacia do rio Grande e deságua no mar. Sem contar que contamina o solo e pode atingir o lençol freático.
            Ainda seguindo o ribeiro, chegamos a outra área descoberta, porém mais distante das moradias.
            Uma das alunas nos convidou para visitar sua casa, pois estávamos bem próximos. Fomos e pudemos presenciar a utilização da água que era bombeada de uma represa para irrigação de uma grande plantação de hortaliças e lavagem de inhames que seguiriam para a Ceasa em Belo Horizonte.
            Voltando à escola, usando o mapa hidrográfico de Lagoa Dourada, observamos o divisor de águas aqui existente cujas águas seguem para a bacia do São Francisco e do Rio Grande, localizando-as no mapa do Brasil. Os alunos fizeram o relatório do trabalho de campo e copiaram um pequeno texto com dados extraídos do mapa da hidrografia de Lagoa Dourada referentes ao divisor de águas.
            A próxima etapa foi ler o texto “Uso da água” tirado do livro do professor do Programa Semeando. Os alunos trouxeram algumas curiosidades sobre desperdício de água e entrevistaram pessoas da comunidade para saber meios de economizá-la. Tudo foi socializado e discutido com a turma.
            O encarregado da Copasa, Marcelo, fez uma palestra para os alunos esclarecerem dúvidas e curiosidades. Marcelo explicou que a água seria tratada nos próprios poços artesianos já existentes na cidade, dando a localização dos mesmos. Falou sobre os produtos químicos usados, os benefícios do uso da água tratada e as taxas de pagamento, as quais tanto preocupavam as crianças e a população. Para que eles entendessem melhor, utilizou dados da média de água gasta pelos lagoenses, comparando com a média de outras cidades. Os alunos perceberam que o gasto estava muito acima e que a taxa não seria tão elevada se começassem a usar devidamente o líquido de maneira certa e com a sabedoria.  Perguntaram sobre a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e o palestrante disse que seria uma preocupação para se resolver no futuro, nos sugerindo a visita à fábrica de laticínios que já possui ETE. Os alunos fizeram relatório detalhado da palestra e analisaram fotos que mostravam o desenvolvimento da instalação da Estação de Tratamento de Água (ETA) na cidade.
            Na aula seguinte os alunos trouxeram contas de água para serem analisadas e interpretadas já com a mentalidade de que a água fornecida pela prefeitura precisava passar pela ETA. Não mais iriam correr o risco de abrir a torneira e se depararem com água impura, pois não era aplicado nenhum produto químico na água que saía diretamente dos poços para as caixas d’água. Contaram para seus pais sobre a palestra e alguns disseram que alguns, que eram contra a instalação da ETA, mudaram de opinião.
            Agendada a visita à fábrica, estudamos sobre a ETE usando material do Programa Semeando. Na visita á fábrica, as crianças conheceram o processo de purificação da água
                                                                              Luciana das Mercês Santos
através de aeradores que oxigenam a água provocando a fermentação aeróbica que evita a morte das bactérias até chegar à separação do lixo que segue para aterro sanitário. Usando tubos de ensaio, observaram a limpeza da água em cada etapa. O relatório também foi feito.
            Em se tratando das utilidades da água, estudamos ainda energia elétrica usando material do PROCED (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Identificamos dados importantes sobre os principais consumidores de energia elétrica nas casas, como a energia é produzida, o papel das usinas.
            Não paramos por aí, pois surgiu a curiosidade em saber como a energia elétrica chegou em Lagoa Dourada. A descoberta foi magnífica, porque  nossa cidade já teve uma usina que começou a funcionar em meados do século XX. Com o aumento da população, foram adquiridos geradores, movidos a óleo. Uma energia cara, pois o óleo era comprado. A solução salvadora foi a Cemig. Tudo isso e mais detalhes foi descoberto através de entrevista com Alceu Ferreira de Resende, morador da cidade e conhecedor do assunto. Já que falávamos sobre energia, também analisamos contas.
            Ainda seguindo o roteiro de curiosidades sobre o assunto água feito no início do projeto, estudamos sobre o efeito estufa usando o texto “Uma fábula para crianças” de Rubem Alves e assim podermos chegar ao entendimento sobre aquecimento global e degelo.
            Com o auxílio do texto “O aquecimento global já afeta nossa vida” extraído da revista Veja de junho de 2006, fizemos um seminário e discutimos a questão ambiental. Foi um sucesso o seminário uma vez que os alunos expuseram com grande desenvoltura o assunto lido e se mostraram comprometidos em levar os conhecimentos adquiridos a toda comunidade.
            Assistimos ao filme “A Era do Gelo 2”, discutimos o vídeo e fizemos algumas atividades relacionadas a ele. Depois de ver e analisar os acontecimentos da história, as crianças entenderam a catástrofe que se aproxima cada vez mais dos seres humanos, graças a atitudes impensadas.
            Assim, começamos a organizar a feira “Acertando as Gotas”. Os alunos fizeram maquetes da ETA, ETE, de uma casa com distribuição da água da caixa até a torneira entre outras; experiência mostrando o abastecimento da água para as caixas residenciais usando garrafas pet e goma de soro, painéis com fotos tiradas durante os trabalhos de campo e que retratavam os conteúdos estudados. A feira que foi divulgada para toda comunidade e cada visitante recebia uma gota feita de papel agradecendo a visita e contendo dicas de economia de água. A feira foi encerrada com a apresentação de uma peça de teatro escrita por mim, intitulada “O julgamento Final”. A peça se trata do julgamento do Homem que destruiu o meio ambiente, que é acusado pela Água, Solo e outros personagens da natureza. O Homem é salvo quando o advogado de defesa chama para depor o Amor que, com a ajuda das crianças, salva o Homem.
                                  

                                               AVALIAÇÃO
           
De acordo com o desenvolvimento do Projeto “Acertando as Gotas”, pude verificar o interesse dos alunos aumentando à medida que iam conhecendo fatos novos associados ao conhecimento prévio que possuíam. Essa motivação eu só consegui por termos selecionado conteúdos relacionados com as curiosidades e metodologias próximas à realidade de cada um.
Nós aprendemos descobrindo e pesquisando juntos. Em nenhum momento nos sentimos desmotivados ao encontrar obstáculos como a dificuldade em seguir o ribeiro numa área suja ou na organização da Feira “Acertando as gotas”.
Tentei envolver toda a escola no projeto, mas houve rejeição por parte dos professores que trabalhavam outros temas de maior importância para eles, segundo a supervisora da escola.
                                                                    Luciana das Mercês Santos
Minha principal meta era conscientizar as crianças e a população da importância da economia de água, não pelo motivo financeiro, mas como bem necessário à vida que corre grande risco de acabar, e consegui, juntamente com os alunos, sensibilizar muitas pessoas.
Os alunos foram avaliados durante todo o processo de ensino-aprendizagem e suas dificuldades foram supridas com ajuda dos colegas e a minha orientação, pois estávamos o tempo todo apreendendo. Tiveram grande desenvoltura na nossa atividade final, a feira, ao apresentarem o tema aos visitantes. Pude perceber a sintonia entre nós.

                        AUTO-AVALIAÇÃO

            Mostrei-me disponível e motivada ao planejar as aulas, pesquisando em livros, vídeos, entrevistas e internet.
            Já trazia uma boa bagagem do curso do Programa Semeando, do Procel e PCNs em ação e contei com a ajuda de profissionais como supervisora e funcionários que contribuíram com seus depoimentos. Tudo facilitou o direcionamento do trabalho.
            Se eu pudesse mudar alguma coisa no projeto, trataria de visitar uma nascente e uma ETA, o que hoje já é possível em nossa cidade, pois a Copasa já foi instalada. Tentaria de outras maneiras envolver toda a escola com o projeto. Acredito que desta forma haveria uma conscientização mais coletiva e um envolvimento maior.

                                                           Luciana das Mercês Santos

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