sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O julgamento final

Este texto também foi publicado na Revista Amae Educando

Teatro: Julgamento Final
Autora: Luciana das Mercês Santos

PERSONAGENS
Juiz-
Júri: palhaços
Réu- Homem
Promotora-
Defesa-
Testemunhas- Rio, Ar, Solo, Amor, Criança.
                    Todos de pé
Juiz- Está aberto o julgamento do Homem que está sendo acusado de agente ativo           na destruição do mundo.
Que entre o réu!
Nome
Réu-Homem de Todos os Tempos
Juiz-Idade
Réu-2006 anos
Juiz-Endereço
Réu- O mundo inteiro
Juiz-Você jura dizer a verdade, nada mais que a verdade, além da verdade?
Réu-Sim, meritíssimo.
Júri-Rá, rá, rá, rá, ...
Promotoria-É certo que você agiu muito mal, destruiu a terra e agora não há como            viver no planeta.
Juiz-Que entre a primeira testemunha.
Promotoria- A promotora chama para depor o Rio.
                 Rio, o que aconteceu com você que quase não existe mais?
Rio-Fui poluído e temo morrer logo.
Promotoria-Quem é culpado por tudo isso?
Rio-O Homem não soube me usar. Não via o quanto eu chorava ao sentir minhas  águas sendo poluídas.
Promotoria- O que era jogado em suas águas?
Rio-Garrafas Pet, lixo das fábricas, esgoto das casas. Ficaria o dia todo enumerando se fosse dizer tudo.
Promotoria- Como puderam ouvir, o Homem não pensou, destruiu o rio que é fonte de água potável.
               Sem ser a poluição, mais alguma coisa contribuiu para sua destruição?
Rio-Minhas nascentes ficaram desprotegidas por causa do corte das árvores nativas e acabaram secando. Como doeu! Homem assassino, pague pelo que fez!
Júri- Tá perdido, tá perdido, ta perdido. Rá, rá, rá...
Promotoria- Nem mais uma pergunta, meritíssimo.
Juiz-A defesa tem alguma pergunta para o Rio?
Defesa-Sim, meritíssimo.
               Durante todo seu tempo de vida, o Homem não te trouxe nenhuma alegria?
Rio- Tive momentos felizes desde meu nascimento. As minhas águas servindo para irrigação de plantações imensas, crianças nadando e brincando às minhas margens, pessoas e animais saciando a sede com minha água.
Júri- Alegria, alegria, alegria. Rá,rá,rá...
Defesa-O homem conseguiria sobreviver sem você?
Rio-Não, porque ficaria sem alimento das lavouras e morreria de sede.
               O Homem tentou cuidar da minha água através de uma estação de tratamento de esgoto, mas não conseguiu me salvar porque nem todos entendiam isso.
Defesa-Você acha justo a humanidade ser condenada por causa de alguns?
Rio-Sim, porque não são alguns, são muitos.
Júri-Sem piedade, sem piedade, sem piedade...
Defesa-Nem mais uma pergunta, meritíssimo.
Juiz-Que a promotoria chame a próxima testemunha para depor.
Promotoria- A promotoria chama o Ar.
               O Homem te prejudicou de alguma forma?
Ar-Os monstros de concreto que soltam fumaça pelas ventas me sufocam e com isso aumenta a quantidade de gás carbônico que intoxica. Os carros cospem fumaça dos carburadores. Os lixões soltam gases fortíssimos e muito mais.
Promotoria- O que o homem tem a ver com tudo isso?
Ar-Ele é quem criou as indústrias, os carros, os lixões. Vou morrer graças a você, Homem.
Júri-Assassino, assassino, assassino...
Promotoria-A poluição é prejudicial à saúde. Que males ela vem causando ao próprio Homem?
Ar-As crianças são as mais prejudicadas com problemas respiratórios como bronquite e asma. O homem não quer que a humanidade seja salva, pois vem comprometendo a vida dos seus descendentes.
Promotoria-Sem mais perguntas.
Juiz-A testemunha responde as perguntas da defesa.
Defesa-Ar, você que está em todos os lugares, já viu muitas crianças nascerem?
Ar-Sim. Todas as crianças do mundo e é por isso que sinto tanto vê-las sofrer.
Defesa- Então você sabe que se não fossem os carros para levar as mães até aos hospitais, muitas crianças nem chegariam a nascer.
Promotoria- Protesto, protesto, meritíssimo.
Juiz- Protesto negado.
Júri-Bem feito, bem feito, bem feito...
Ar- Não tinha pensado nisso.
Defesa- Sem as indústrias o homem não teria os recursos para sua subsistência, remédios para curar as enfermidades, alimentos de primeira linha, roupas sofisticadas, brinquedos, eletrodomésticos e outros utensílios para o conforto dele.
Júri- Oba, oba, oba, oba.
Juiz-Ordem no tribunal.
Promotoria- Protesto, meritíssimo.
Juiz- Protesto aceito. Que seja mais claro em suas colocações, advogado de defesa.
Advogado de defesa- Seria possível fazer tudo isso, sem a poluição?
Ar- Sim, se o Homem tivesse cuidado das árvores que me purificam. Antigamente não tinha tanto conforto, mas as doenças eram poucas, Hoje em dia nem as estrelas são vistas direito. Sou cinza, sou tristeza. Chega de sofrimento, quero justiça.
Júri-Justiça, justiça, justiça, justiça,...
Juiz-Que entre o solo para ser interrogado.
Promotoria- Solo, peço a sua ajuda para refrescar a memória do Homem que esqueceu as maldades que fez com a natureza.
Solo- O homem me destruiu por causa dos lixões que depositava sobre mim, cujas toxinas penetravam na terra tornando-a poluída e sem fertilidade.
Júri- Homem mau, Homem mau, Homem mau...
Solo- Com o crescimento da população, o Homem teve de aumentar a produção de alimentos. Para isso usou agrotóxicos para acabar com as pragas. Eu fui ficando fraco porque as pragas se tornaram mais resistentes e os agrotóxicos mais fortes.
Promotoria- Com a contaminação do solo, é bom lembrar que os lençóis freáticos também ficam ameaçados.
Defesa- Protesto, meritíssimo.
Juiz- Por um acaso é mentira a colocação da promotoria?
Defesa- O rio já depôs, a água não pode ser citada novamente.
Juiz- Protesto negado.
Júri- Rá, rá, rá....
Promotoria- Sem mais perguntas.
Juiz- Que a defesa faça suas perguntas ao solo.
Defesa- Se o Homem não tivesse te contaminado, teria como se sustentar?
Solo- Claro que sim. Foi sua ganância que me levou à destruição, pois no início na havia agrotóxicos e nem pragas tão resistentes.
Defesa- Te usando, o Homem matou a fome de todos. Se não o tivesse feito, teria morrido. Tem de se sentir orgulhoso por ter oferecido vitaminas, proteínas e moradia a todos.
Júri- Isto mesmo, isto mesmo, isto mesmo...
Solo- Bom lembrar das moradias, pois me vestiu com roupa cinza que o Homem chama de asfalto. Ali embaixo não tem nenhuma vida. Você, Homem, sempre quis me destruir.
Defesa- Sem mais perguntas.
Juiz- Homem, aproxime-se. Você se julga inocente ou culpado?
Homem- Inocente.
Júri- Culpado, culpado, culpado...
Homem- Não posso negar, meu coração se enche de culpa.
Defesa- Mantenha a calma, Homem. Nossas testemunhas o ajudarão.
Homem- Que testemunhas? Nenhuma a meu favor.
Júri- Chora, chora, chora...
Juiz- Ouviremos as testemunhas da defesa.
Defesa- Chamo o Amor, meritíssimo.
Defesa- Quem é você?
Amor- Sou o melhor dos sentimentos, moro no coração de todo Homem. Muitos ainda não me conhecem direito, mas vejo que isto não é impossível de acontecer.
Defesa- Pode fazer alguma coisa para salvar o Homem?
Amor- Claro, do contrário não estaria aqui. Peço ao meritíssimo que me deixe interrogar o Homem.
Promotoria- Protesto, meritíssimo.
Juiz- Protesto Negado.
(O Amor se aproxima do Homem)
Amor- Você já amou?
Homem- Tudo e todos. Sempre o amor me conduziu. Os danos que causei à natureza foram para levar comida, água, cura, conhecimento a quem necessitava.
Amor- Tenha fé e não desista. Se tiver outra chance, terá de mudar muita coisa. Promete?
Homem- Prometo.
Júri- Amor, Amor, Amor...
Defesa- Amor, o Homem tem salvação?
Amor- Tem. Irei ajuda-lo a construir, sem destruir. Farei o possível para lhe trazer entendimento. Nenhum Homem viverá sem me conhecer totalmente.
Defesa- Como fará isto?
Amor- Fechem os olhos e olhem para dentro de vocês. Vejam se eu não estou aí, se o meu poder não é enorme. Sou forte e posso combater todos os sentimentos e atitudes ruins.
Promotoria- Protesto, meritíssimo. O Amor está fazendo uma lavagem cerebral no júri.
Juiz- Protesto negado.
Júri- Ih, fora! Ih, fora! Ih, fora!...
Amor- Não tenha vergonha de me sentir, estou dentro de você também.
Promotoria- Agora sinto! É isto! O Amor é lindo! Ainda há esperança.
Júri- Salvem o Homem, salvem o Homem, salvem o Homem...
Amor- A prova maior do meu poder de criação, símbolo de esperança é a Criança.
Defesa- Crianças, Venham e nos ajude salvar a humanidade.
(Algumas crianças entram e encenam a música “Depende de nós”)
Juiz- Diante de tudo isto, o júri declara o réu inocente, pois para quem acredita no amor, não há ponto final em nenhuma história. “Ele é responsável pela resolução de todos os problemas, ele constrói corações, ele cura machucados...”

                                                              Luciana das Mercês Santos

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